domingo, 28 de fevereiro de 2010

excerto de um livro não publicado :)

Noite 3

 
Falho-te sempre o beijo, sempre aos tiros numa sala de espelhos. Que vê um espelho num cego? Vê o que vê o cego, porque o espelho não tem consciência de ver. E isso é nada. Um negrume de ouvir e tocar e cheirar e de ver, uma consciência de que se é só nada porque nada se vê reflectido. E de que nada só existe porque alguém duvida que exista e é essa toda a sua importância. Uma dúvida. Existo eu porque duvido que exista. Existes tu, porque és a parte de mim que quero beijar e existe nos espelhos que duvido que existam. E porque juro que dizes de dentro da minha cabeça


Nada não é nada.
Nada é tudo aquilo que se demora,
O resto de quando o tudo se enfada,
Não é nada.
Se fosse nada…
Oh!
Nada é uma expressão precipitada.
É na verdade uma coisa problematizada.
Ainda assim, designada.
Frívola perturbação de uma negação,
Tentando a expressão de uma conclusão a nada aplicada.

Nada é bem mais que a lógica e miolos e razões
De quem quer dizer que nada é nada.
Se nada fosse nada, nada diziam sobre nada, morcões.
Nada é só a totalidade rebentada,
É uma concepção nada complicada.
Um tanto chanfrada, talvez.
Tanto não é nada, que faz notar uma ausência,
Uma invulgar deficiência.
O que há dentro de uma saladeira sem salada?
Nada!

Pois claro, haja competência, haja sobretudo apetência,
Atribui-se características de tudo a nada.
E, à falta de melhor desembrulho nesta embrulhada,
Nada é qualquer coisa que nunca tenha sido pensada.

Amo-te por isto.
Não há dia em que não pense em quem espero que sejas tu, meu amor.


Espero vir a descobrir o resto :)

(c'mon, não achavam mesmo que eu não ia escrever o verbo descobrir pelo menos uma vez, não é? ahah)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

a razão do diabo

Quis custodiet ipsos custodies?
Quem guardará os guardas?

Prepara-te. Hoje, explico-te os mecanismos mais básicos do mundo, tal como eu os entendo. E entendo-os.

Antes de mais, deixemos uma coisa assente. Tudo é equilíbrio.
Equilibrium. Equi libra. Equi, igual. Libra, balança. Por muito infantil que possa parecer a explicação, torno a fazer questão de lembrar que é preciso entender e usar as palavras na sua plenitude de significados. Sendo assim, define-se que equilíbrio é, primária e etimologicamente, o fenómeno pelo qual se colocam em igualdade de peso dois pratos de uma balança. Fisicamente (para os mais científicos), isto significa que as suas acelerações se anulam.
Assim, na prática, o que estou a dizer é que este universo se rege por um princípio muito simples. Quando um prato da balança pesa mais, é preciso compensar no outro. E por pratos da balança entendam-se quaisquer dois extremos que se possa imaginar.

Imagino que estejam já os mais impacientes a perguntar-se que raios é que isto tem a ver com o tema deste texto. Vamos por partes.

Primeiro. A existência funciona através de extremos. Desde que nascemos até quando morremos e antes e depois, todas as nossas acções, pensamentos ou sentimentos são compreensíveis entre dois extremos. Extremo positivo e extremo negativo. A meio, temos o equilíbrio. Como vêem, até o próprio conceito de extremo tem dois extremos. Extremo e não extremo, ou meio. Se desenvolverem este raciocínio suficientemente, hão-de aperceber-se que se chega a um ponto em que a razão humana é insuficiente para descalçar esta bota até ao fim.

Segundo. Há dois tipos de forças, energias, cargas ou acções no universo. Positivas e negativas. Estas dirigem-se de um extremo a outro e, para cada acção, há uma reacção de sentido inverso e igual intensidade. Está claro que o facto de tudo isto ser analisável não é senão uma questão de perspectiva, uma relatividade no tempo e no espaço que é inerente a quem observa. O observador ideal não teria perspectiva e portanto não teria relatividade, pelo que não necessitaria de interpretar factos, apenas de fazer cálculos. E isso, já agora, seria saber o destino.

Terceiro. A união destes dois factores resulta num equilíbrio cósmico inabalável entre harmonia e caos, morte e vida, bem e mal, luz e escuridão, positivo e negativo.

Não sou só eu quem o diz. Di-lo Newton com as suas leis, di-lo Einstein com a sua teoria da relatividade e tantas outras, di-lo o yin yang, os budistas, os hindus, os cristãos (sim, os cristãos)...

De diferentes maneiras, sob diferentes formas e disfarces, o subconsciente continua a dizer-nos o mesmo vezes e vezes sem conta. A resposta está no equilíbrio.

O problema é que, como diz Newton na sua primeira lei, se não lhe for aplicada uma força, um objecto estará parado. Inexistência. Contudo, uma vez aplicada uma força, esse objecto movimentar-se-á com a mesma velocidade e sentido até que lhe seja aplicada nova força.

Ora, se a existência (o movimento) dependesse de apenas um extremo, isso seria o mesmo que dizer que o objecto andaria infinitamente no mesmo sentido, que é o mesmo que dizer que a balança penderia infinitamente para um dos lados. E isso é absurdo, porque nesse caso o ser humano, a vida, o planeta terra e a organização de partículas em geral nunca poderia ter existido, degenerando-se o universo num calor ou frio extremo, caos extremo que não permitiria reacções de qualquer género ou organização extrema que deixaria as moléculas estáticas, etc.

Tomemos um conceito totalmente diferente. Económico. Desenvolvimento sustentado. Compensação de custos com lucros. O universo criou este sistema há muito tempo atrás.
Resumindo, esta é a lei que rege o universo, está gravada em cada minúscula partícula do nosso ser, pelo que é perfeitamente natural que vejamos o mundo como uma dança entre extremos.

Como tal, quando pensamos na existância de um deus, uma força positiva, faz todo o sentido que equilibremos a balança com uma força negativa. o diabo (muahahahaha!)

Quis custodiet ipsos custodies?
O universo tem a solução perfeita. Duas cargas antagónicas com objectivos antagónicos, cujas forças se anulem numa perfeita harmonia e num perfeito caos, controlando-se mutuamente, lutando sempre em vão pelo desiquilíbrio, mantendo assim o equilíbrio.

Descobre os desígnios do mundo e descobre o teu lugar no seu equilíbrio :)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Perco-me aqui, entre os fachos de memórias de reflexos de sol poente
Que adornam a irrequieta água do Tejo,
Saudando cada momento que passou,
Com estreitas passadas elegantes de um gato preto pela margem.
Chorando de luto cada rio que passa e nunca mais,
Enternecendo-me em cada gota que chega com o que chega para sempre.
E traz-te.
Esculpe-te no meu suspiro, espalha-te pelo ar frio e aquece-lo quando me beijas.
Bebo-te as formas e choro-te na mais pura emoção e...
E estás entre os olhos e as estrelas
E compassas o fumo do jazz com o teu pulso
E escondes-te nas ruas e nos corações e levas-me seguro a casa,
Para não estares ainda, mais uma vez, à minha espera.

Espelho Teu


Desculpem lá, tenho andado sem tempo para sequer me coçar, mas não podia passar o dia dos Namorados sem escrever alguma coisa. Um feliz dia para quem o pode aproveitar (se puderem, odeio-vos ahah).

descobre-te :)

P.S. se puderem, divulguem esta coisa. sim?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sessenta euros! Foram sessenta euros pelos 10 minutos que o "senhor doutor" perdeu do seu exorbitantemente valioso tempo a examinar-me!

Hoje apetece-me fazer contas. Ajudem-me, não são contas difíceis. 60 euros por 10 minutos. Portanto, 6 euros por minuto. Se um minuto tem sessenta segundos, 10 cêntimos é o preço de um segundo da vida deste senhor doutor médico.

Tendo em conta que o limite de percepção do olho humano são 60 frames por segundo, ou seja, o nosso cérebro não consegue distinguir como imagens separadas mais que 60 por segundo, significa que uma frame, um instante humano, demora, na realidade, aproximadamente 0,017 segundos.

Tomando, de novo, o exemplo do senhor doutor, que entretanto saiu do consultório para se dirigir a casa onde o espera a mulher ansiosa por lhe dar uma boa notícia, façamos as contas.

Chegámos à conclusão de que 1 segundo do senhor doutor vale 10 cêntimos. Isso significa que um instante vale 10 cêntimos vezes 0,017 segundos, portanto 0,17 cêntimos.

Suponhamos agora que, ao entrar em casa, o ganancioso do senhor doutor sente um ardor no peito, nada de importante, apenas um incómodo. A cada passo apressado e excitado da mulher do senhor doutor pela escada abaixo, a dor aumenta de intensidade, tomando um corpo próprio, prendendo o peito e fechando-lhe de vez os olhos no preciso instante em que a esposa entra na sala com um enorme sorriso que ele já não viu, nas mãos a imagem de uma ecografia de um filho que ele já não foi a tempo de saber que existia.

Por esse preciso instante extra, a sua última paciente pagou 0,17 cêntimos.

Pensando assim, parece uma pechincha, não é?


É evidente que não tem sentido prático ver as coisas assim, nem que seja porque as consultas do médico já estão suficientemente caras, não é? Mas de vez em quando, vale a pena pensar em quanto vale cada momento, em como alguns instantes são verdadeiramente priceless.

E talvez, só talvez consigas lembrar-te disto justamente quando estiveres prestes a perder tempo. E aí, o tempo que eu perdi a escrever isto não vai ser tempo perdido. Não foi.

Uma dica, sempre diferente, apesar de tudo. Tão diferente quão diferente és todos os dias,
Descobre-te :)