segunda-feira, 2 de agosto de 2010

um bicho escondido no meu fundo,
alimenta-se dos dízimos de mim,
sem fim, numa deplecção de quem javarda por capricho
um bocado esburacado de carne que mói em espasmos
como se ainda um coração,
é todo ele dedos, em todas as direcções,
agora na calma dos teus olhos verdes,
agora na frescura dos dois céus com que vês,
agora na doçura sorridente de chocolates,
agora no negrume da verdade dum par de beijos de azeviche,
nacos de mim que se vão, se não mingo é porque me preenche de um tu que ainda não existe,
agora um naco de toque demorado que não sentiste,
agora a Lua,
quanto não queixaria se falasse do que quisesse quanto lhe cobro que fala de ti,
há-de saber onde estás, logicamente quem lá está sou eu,
na Lua,
que este bicho já terias tu desmentido se contigo se encontrasse,
destoa sempre a imitação do original, seja um olhar ou um estilo de escrita
e, de resto, a ti ou ao Saramago, atribua-se o seu a seu dono.


"Ensaio sobre um morto"

2 comentários:

Anónimo disse...

Epá, és nojento.

. disse...

@anónimo: é provável que tenhas razão. se quiseres, podemos falar sobre isso