quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

das doenças psicológicas (capítulo primeiro)


Ontem entrei num café e estava a dar "as tardes da júlia" (e não, não serão discutidas nesta publicação as evidentemente variadas doenças psicológicas da referida "júlia". talvez noutra ocasião).

de qualquer maneira, enquanto tentava distrair-me desse ruído de fundo, apanhei duas ou três frases. qualquer coisa sobre depressão, mães com depressão ou algo do género. a meio do esganiçado discurso, contudo, ouvi uma afirmação que, mesmo com o benefício da dúvida de ter sido dito num programa tão sério e respeitável, me arrepiou por dentro.

"uma de cada quatro pessoas em todo o mundo sofre, sofreu ou sofrerá de depressão."

isto faz-me pensar, mas pensar a sério. isto assusta-me, não porque temo por mim (eu sei que não vou sofrer de depressão), não pelas implicaçoes directas desta afirmação, mas pelo que leva alguém a achar que é verdade. comecemos, então, do início.



o homem era um animal normal. nascia, comia, dormia, fugia, lutava, reproduzia-se e morria, que é basicamente o que todos os animais fazem, mas alguma coisa aconteceu que nos tornou diferentes. arbitrariamente ou advertidamente, por um conjunto de factores, o que é certo é que fomos ganhando uma dimensão psicológica e social algo maior. muito maior, dirão muitos.

ora, quem teve filosofia no 10º ano sabe perfeitamente que o homem é definido como um ser "psicológico, biológico e social". como, aliás, todos os animais, julgo eu. julgo também que não somos 'super-animais', que a natureza não nos teria feito sem fraquezas. a natureza é muito mais eficiente do que frequentemente pensamos.

sendo assim, se nos aumentou o poder psico-social, além de nos ter diminuido o poder biológico (e por poder biológico entenda-se a capacidade de sobrevivência em meio selvagem, o instinto), aconteceram outras coisas que nos foram enfraquecendo.

dir-se-ia que a sociedade é regida pelos políticos, numa pirâmide social que vai descendo com o grau de importância das pessoas. mas a sociedade é agora uma entidade própria, com uma regência própria. deixou de ser a 'societas', a 'associação amistosa com outros', para se tornar um conjunto de regras rígidas que já ninguém controla. já não há chefes da sociedade, tal como não há chefes do dinheiro.

da mesma maneira que nos criou a natureza, criámos a sociedade. perdão, não da mesma maneira, existe uma crucial diferença. a natureza sabe o que está a fazer. a natureza está a controlar a situação. se 'mijamos fora do penico', a natureza manda um terramoto e mata centenas de milhares de pessoas em 2 minutos, como agora, no Haiti, e em tanto sítio. não é vingança e não é castigo. a natureza não sente raiva.

a sociedade oprime-nos, a sociedade reprime-nos, compele-nos a pensar de maneira restritiva, marginaliza-nos e nós prestamos-lhe reverência. é curiosa a tendência do homem para prestar reverência ao que cria. e continuamos, não porque dependamos da sociedade, não porque precisemos dela, mas porque a alternativa é impensável. anarquia.

não me interpretem mal, não defendo a anarquia. de modo algum. só estou a dizer que há sempre uma contrapartida. quando me conhecerem melhor, hão-de perceber-me melhor.

a alternativa é impensável porque também temos algo que a natureza não tem. amor. a natureza equilibra as coisas. invariavelmente. impiedosamente. sobretudo, justamente.

nós somos diferentes. nós amamos. amamos a sociedade porque a criámos, porque somos parte dela, porque ela é mais que nós, porque nos liga, porque é uma coisa que podemos amar. e isso tira-nos objectividade, naturalmente.

como o monstro de frankenstein. criámo-la. e agora amamo-la demasiado para a matar. ela permite-nos a razão. e a razão permite-nos a depressão. e, da depressão, falamos no próximo capítulo, se tiverem paciência.


não chegámos hoje ao cerne da questão, mas a moral da história de hoje, mais uma vez

Descobre-te individualmente e descobre-te socialmente. Pela ordem que quiseres, mas faz    :)

5 comentários:

S* disse...

Acho que a depressão, muitas vezes, é usada como desculpa para as pessoas que têm medo de lutar. Peço desculpa, mas é o que acho.

Catraia_Sofia disse...

Nós somos diferentes? Ou é a natureza que o é? ;)

'stracci disse...

Qualquer coisa muito estranha?

Sandra disse...

e que bem que escreves tu :) e com muita razao!

beijinhoo

Anónimo disse...

Eu sofro de esgotamento nervoso, não é depressão mas por vezes as pessoas tendem a confundir. ok, isto supostamente não deveria ser escrito aqui, no meio de blogs, visto que poucas pessoas o sabem. foi há coisa de 2 meses, agora estou muito melhor. quanto ao que perguntaste, são tantas as mentiras como as verdades, mas justamente por isso tem piada. claro que eu não me imagino a escrever o que não sinto, logo minto com sentimentos passados. ou seja, uso a verdade de outra altura para mentir agora. (um escritor tem esse poder).
gostei do que escreveste, mas sinceramente, como estou dentro da questão sei que sou imensamente extrovertida e que nunca me imaginei nesta situação devido a isso e aqui estou eu.
falarei melhor depois disto,´
beijinho,
www.verdadesementirasdodia0.blogspot.com