sexta-feira, 28 de maio de 2010

A noite tropeçou.
De oriente a ocidente, foi apagando, sossegadamente, os candeeiros e acendendo o laranja nas ruas. Três horas e vinte e nove minutos. Acordei com o baque surdo sobre o crânio do meu corpo e o vácuo do mundo exterior sugou-me pela fractura, por debaixo da inércia sonolenta da noite. Perdi-me no ar como um odor de maçã fresca pelo bosque e, quando me quis entranhar pelas árvores, já era insubstancial.

Fui o esboço da alma de uma revolução, a esperança de olhos brilhantes num amor que se moldava eterno, as Ícaras asas de deus guiando o mundo ao…
Agora, insubstancialmente dissolvida na atmosfera, quem me dera poder, ao menos, chorar. Quem me dera poder condensar-me numa lágrima gorda e cair no chão e ser notada só pela terra que humedecesse. Quem me dera mais do que pairar. Pairo e lamento a incapacidade chorar o infeliz que se perde pelos caminhos de um planeta sem sol nem astrolábio, preso à noite a que se entregou e confiante adormeceu, para acordar dono de uma cabeça rachada e uma mente que se evadiu sem dizer adeus.

3 comentários:

João Gramaça disse...

Boa noite

Sabes o que é engraçado? É que a cada texto, a cada frase, só podemos esperar o inesperado... Realmente, todos os textos estão marcados por uma irreverência total, por rasgos emocionais levados ao extremo... Tu não escreves com as mãos, tu escreves com a alma, e colocas um pouco dela em cada palavra.
Continua assim, ambos sabemos que a única forma de não enlouquecer é materializar as mágoas, desabafar com a única amiga que sabemos estar sempre do nosso lado: a folha branca e virgem.

abraço

Miss Murder disse...

XD Sabes uma coisa? Cantas bem!

XD

Ester disse...

... ainda estou procurando a saída