sábado, 26 de junho de 2010

O último reduto

Nascer-se ângulo em linhas rectas.
Rebentar-se acutilantemente, rasgar os padrões crónicos do mundo.
Espumando da boca a teima de quem vai arrancar o passado
Às sementeiras secretas do fundo de uma mente bem mais louca,
Envenenar a insanidade ordenada que não veio. Ainda.
Um berro épico, o último berro.
O último choro que explode na garganta rouca e morre.
E não finda.

Brota fogo nos meus ossos. Faço-os de ferro quente
Contundentemente empunhado na ameaça apoteótica
De um sol negro a nascer para o último dia de mim.
Brota fogo, e choram lavas de raiva
Os dois olhos de um só que é sem fim
Porque se lança, de dentes e escória,
E se faz indigesto e difícil de engolir
À ácida torrente maremótica que,
De insurreição a memória,
Se mostra incapaz de um devasso digerir.

Assim se vive numa psique anormal.
Assim se faz eterno um mortal.
Combate como quem fosse guerreiro.
Assim se mantém vivo um herói verdadeiro,
Na honra que obriga a colidir e a morrer.


a poesia já fazia falta, não acham?

2 comentários:

b disse...

Lindíssima!
Imaginei-te como és : guerreiro de ti, do tempo, do espaço.
Atos de coragem.

Catraia_Sofia disse...

A poesia faz sempre sentido!