segunda-feira, 14 de junho de 2010

um proscrito

Há muito tempo que não sentia uma tristeza assim, tão completa. Esfaqueia-me entre as costelas, enche-me os pulmões e não me deixa lamentar o ar que não entra. Alimenta-me e veste-me de uma nudez frágil com que me agarro com cada molécula a uma ligação, uma ligação qualquer. Como um idiota, corro dos meus pensamentos como quem corre por gosto, mas o chão é duro, a meta inglória e o bater do coração no peito cada vez mais irritante. Fujo-lhe, como um idiota, e bate com cada vez mais força, cada vez mais depressa. Num tropeção, dou comigo caído num choro de criança. Sangro uma dor que não sei de onde vem. Passam e olham. Alguns perguntam-me se quero ajuda. Não sei para quê. Não sei como lhes digo que os amo, que os amo tanto que me dá vontade de chorar, que sei que não é normal, que está tudo bem à mesma. Que nem tudo tem que ser normal. Passam e olham e eu suplico. E fazem sempre a mesma careta de indignação e de medo. E vão-se. Alguns, esperam que vá atrás deles. Não sei para quê.

 
Derramado numa berma, pede ajuda e não sabe a quem. Pede ajuda a quem passa e não sabe bem para quê. Deixa estar, é louco. É louco.

11 comentários:

Catraia_Sofia disse...

Gosto deste tipo de escrita!
intensa! sentida! metafórica! real!
Gosto de te ler desta forma mesmo que parece sofrida e louca.

continuando assim... disse...

demasiado real

arrepiante :9
gostei .... nem tudo tem que ser normal

bj
teresa

Barbara disse...

Isto está me lembrando de modo positivo a "Balada para um louco" de Astor Piazola.

E - normal é palavra proibida no contexto dos trabalhos de psicanalistas, sabia?

Porque de perto, ninguém é normal mas isso nem é tão ruim. Chore sim como criança - desague - porque você é muito bom!

À vontade.

sribeirodasilva disse...

boa escrita, bom texto. grandes verdades.

sribeirodasilva disse...

E tens razão em tudo o que disseste, tenho plena consciência de que os fantasmas só abandonam uma pessoa quando essa mesma pessoa está em paz com o passado, quando não mais depende dele. e como dizes aí e muito bem 'neste blog os comentários não têm limite de tamanho, usa à vontade o teu direito à opinião.', aplica-se lá ao meu cantinho. gosto que sintam o que escrevo mesmo que neste caso não tenho sido o que sinto de momento, mas todos nós em alguma fase da nossa vida o sentimos. A angústia da perda, e o desejo de regresso.

e este texto está tão sentido, tão expressivo, tão... wow, que me deixou sem palavras. sentimentos levados ao extremo, adorei.

seguirei, pois claro. beijinho *

Unknown disse...

Olá...

Na imensidão da escuridão suplicas a transiuntes que não te vêm nem o corpo e muito menos a alma...

No meio da escuridão procuras alguém que te veja com os olhos do coração e que a sua alma te abrace com o sentimento de quem te "vê", "lê" e te beija com a ternura de quem ama sem ver apenas sentir...

sribeirodasilva disse...

o que é o quê, exactamente?

sribeirodasilva disse...

o que é o quê, exactamente?

sribeirodasilva disse...

e o que parece que seja?

sribeirodasilva disse...

é incrível o poder da nossa imaginação, certo? é a minha mala num banco de jardim, mas a fotografia ficou desfocada porque na realidade estava a tentar fotografar uma outra coisa, pelo que movi a máquina e deu aquele efeito. acrescentei um pouco de contraste e... voilá! mas gostei da descrição.

sribeirodasilva disse...

LOL não é necessário