segunda-feira, 15 de março de 2010

Vou à borda e molho o pé.
Uma e outra vez, toco e fujo, um tolo que quer descobrir o fundo do mar com meio salpico de água no pé. Meio salpico e já foste tu, já sinto mil risinhos por dentro, já me tocaste, já me conheces, já me queres.
Está claro que não olho à volta, que não vejo mais mil milhões de meios salpicos a arrepiar mais mil milhões de pés. Meio salpico e já sou teu. Dou um passo atrás e extasias-me, só por ti.
Como que sinta a água fresca e quase que tenha medo que o calor do meu corpo a aqueça, que a mude um bocadinho só que seja. Ou como que me importe com algum pescador que te reclame. E não mergulho no verde dos teus olhos de uma cor que eu nunca vi, nunca mais que um relance propositadamente de fugida.

E não é por nada disso. Psstt. Entre nós, princesa, acho que tenho medo.
Entende-me lá, é porque toda a gente sabe que o mar é sempre mais lindo quando reflecte as estrelas. E assim como estou, molho um dedo, uma ondulaçãozita, as estrelas tremelicam e riem um riso distante, lá no céu, em ti. Mas as estrelas estão lá em cima e eu não lhes consigo tocar. O mais próximo que lhes chego, és tu.
E assim já não sei se te amo pelas estrelas que te conheço e não tens ou pelo fundo que tens e eu não conheço.
O que eu sei mesmo é que tenho sede do verde dos teus olhos.

Descobre quem amas. E depois descobre-te em quem amas :)

11 comentários:

nada disse...

simplesmente LINDO...
adorei...
descobrir quem amamos é k é o mais difícil...por vezes os sentimentos andam baralhados...confusos...

Catraia_Sofia disse...

Descobrirmo-nos na pessoa que amamos é muito saboroso!

Adorei todo o texto, a metáfora e as claras evidências de realidade sentida! Parabéns!

. disse...

muitos muito obrigados :)
sabe sempre bem ao ego ouvir coisas destas, especialmente enquanto se passa por uma fase em que se quer escrever uma coisa bem feita e bonita e se tem a sensação de que ela terá que ser bonita ou bem feita ou nenhuma.

a quem vem aqui regularmente, gostava de pedir um favor. quando não se perceber, ou estiver pouco bonito ou pouco bem feito, deitem cá pra fora. mesmo :P

Sandra disse...

Hm, deixas-me confusa.. Por momentos tive a certeza que eras uma rapariga, hoje ao dedicares este texto a uma suposta princesa, deixas-me ainda mais indecisa e confusa, LOL. Anyway vejo que não sou a única que é confrontada pela incerteza.. Tu também pareces estar muito confusa/o, baralhada/o e isso fez com que escrevesses este texto, lindo por sinal, que cá está :)

descobre-te tu também, e agarra em todos os mais ínfimos detalhes. e acima de tudo, sê feliz. Se tens sede do esverdeado dos olhos da outra pessoa, diz-lhe isso! Mata essa sede :)!

beijinho

Maria Francisca disse...

Sim, descobrimo-nos um bocado quando gostamos de alguém.
Mas acho que devemos conhecermo-nos bem primeiro, e gostarmos de nós próprios.
Sempre distingui o amor e a paixão. No amor conheces-te melhor, respeitas-te (mesmo que a outra pessoa não te respeite e que isso seja praticamente ignorado por gostares tanto dela). Na paixão estás demasiado cegado pela pessoa. Não te respeitas e praticamente andas tipo cãozinho.
Enfim, teorias.
Olha, eu nunca li nenhum livro dela. Tu já leste, pelos vistos. Estou certa?
Tens que responder à sondagem, estou curiosa.
Beijinhos.

Maria Francisca disse...

:| Agora fiquei chocada.
Gigi, deves-me conhecer. E deves ser rapaz, eu sempre suspeitei.
Tenho que ler, então.

'stracci disse...

Adorei este texto! Tem um «quê» de história para crianças, de inocência (...) que cativa.

m disse...

Bom,
para começar, parabéns pelo texto, está muito bem escrito. Vejo que dás razão a uma das minhas teorias nem sempre aprovadas por quem quer que seja e até por mim: o toca e foge. Essa maneira subtil de mostrar a pontinha do véu e depois... nada. Não significa que tenha que haver o tudo, para já. E também não significa que tenha que haver, de todo. É só um misto de magia, penso eu. É só um jogo viciante, não é? O despertar de qualquer coisa... mesmo que seja em nós.
Não acho que descobrir o fundo do mar seja coisa de tolo. Mas depende de tres coisas: da ondulação, do barco onde navegas e da temperatura da água. Se conjugares isso na perfeição deixa de te parecer sobrenatural (?). E evitas os enjoos.
Agora, tu é que decides. Ou esperas por tempos melhores ou mergulhas de cabeça. A meu ver, não deixes que a água fique demasiado turva onde depois não vejas nem lua, nem estrelas nem nada. Apenas o reflexo do que querias ver e não viste por inúmeras razões que só tu sabes. (basicamente, é o que um amigo me diz quase sempre... por outras palavras...). E também não te molhes por completo... para já, pelo menos

Beijo

Anónimo disse...

"Meio salpico e já foste tu"

É muitas vezes assim: deixamo-nos levar pelos acordes do primeiro salpico. Sentimo-nos consumir quando percebemos que colocámos apenas a pontinha do dedo grande do pé e, mesmo assim, isso foi suficiente para nos arrepiar a alma.

"Meio salpico e já sou teu"

Tem de ser assim. Somos apenas o que tudo o resto faz de nós. O que seríamos então se nada nos fizessem os salpicos?

"Psstt. Entre nós, princesa, acho que tenho medo"

Ainda bem! É bom ter medo. Ele faz-nos vasculhar, dirige-nos até aos cantinhos mais escuros da nossa cabeça. Não deixes fugir esse receio mas, acima de tudo, não te esqueças de permitir-te apenas que ele seja lúcido. Muito lúcido...

"O que eu sei mesmo é que tenho sede do verde dos teus olhos"

Se sabes não interessa como chegas às estrelas nem como elas sorriem. Convence-te: não interessa. Se tocas e sorris e aqueces então só podes sabê-lo!

Maria Francisca disse...

Ainda não percebi quem és. Costumo pensar nisso, de vez em quando. E olha que eu não costumo pensar em algumas coisas, porque me esqueço.

'stracci disse...

Eu ontem apanhei o das 2.30h mas, se não houve «basqueiro» no 205 em que foste, então não foste no mesmo que eu.